quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Deus nos braços da Humanidade, a Humanidade nos braços de Deus


“Quando Maria e José trouxeram Jesus ao templo para ser circuncidado, Simeão o tomou nos braços e louvou a Deus, dizendo: Ó Soberano, como prometeste, agora podes despedir em paz o teu servo. Pois os meus olhos já viram a tua salvação”  (Lucas 2:27-28)


A belíssima cena da apresentação de Jesus no templo é, na minha opinião, um dos mais significativos momentos de toda historiografia sagrada. Pois nela se condensa de forma extraordinária todo o mistério de nossa salvação.
O olhar desatento talvez não o perceba, mas muito para além de um velho sacerdote e do filho recém-nascido de uma jovem de reputação duvidosa, naquele raro instante, encontram-se frente-a-frente o ser humano e Deus. Sim, na singeleza e singularidade daquele instante tão insólito, Deus e o ser humano se entreolham, se contemplam mutuamente, ficam face-a-face. E assim, o Eterno, o Senhor Deus criador de todas as coisas se faz, finalmente, Emanuel, Deus conosco. Daí a comovente oração de Simeão pedindo aos céus que o despedisse em paz dessa vida; afinal, o que mais seus olhos poderiam desejar? Acabara de ver – e tomar nos braços – o próprio Deus.
Moisés, certa vez, pediu ao Senhor que lhe mostrasse o rosto. Mas Deus não pôde atender-lhe o pedido, uma vez que ninguém poderia ver Sua face e continar vivo (Êx 33:18-23). Com Simeão, porém, a petição é atendida: Deus dá-nos a conhecer o Seu rosto. E para nossa surpresa e alegria, Ele não é juiz severo nem um pai violento, mas um bebê adorável. Deus se revela à humanidade como uma criança amável e meiga que se oferece ao nosso abraço. Eis a boa-notícia: Deus deseja o nosso colo, a proximidade do nosso peito onde pode sentir o calor do nosso corpo e o ritmo descompassado do nosso coração.
Dentre tantas coisas, isso é também o que o Natal nos ensina: salvação nada tem a ver com poder, força ou riqueza, mas com vulnerabilidade. Somos salvos na medida em que nos deixamos abraçar. Somos salvos na medida em que desistimos de tentar impressionar as pessoas e provar ao mundo do que somos capazes. Nossa salvação passa pelo desprendimento, pelo esvaziamento dessas coisas. Kénosis. Não é força, mas a ternura que nos salva. Por este motivo Deus se fez criança em Jesus: para nos dizer que está tudo bem em assumirmos nossa fragilidade e admitirmos que precisamos ser amados – por Deus e por nosso semelhante.
Ao mesmo tempo, e por outro lado, é através desse gesto mesmo de vir ao nosso encontro permitindo-se ser carregado em nos braços que Deus nos toma em seus próprios braços e nos salva. Isso Simeão compreendeu muito bem. E por isso exclamou: “os meus olhos viram a tua salvação”. Ora, aquele bebê frágil e meigo era a metáfora divina do que agora ele experimentava: fora abraçado por Deus. Com efeito, não era apenas Simeão que de modo insólito e surpreendente trazia naquele instante Deus junto a seu peito, mas por meio daquela criança, simultaneamente tão singular e tão ordinária, Deus também tomava nos braços toda a humanidade.
Natal é isso: Deus e os homens de braços abertos para acolher, cuidar, amar e receber amor. Abracemo-nos, portanto, e nos deixemos abraçar. Abrace ou envia um abraço a quem vc Ama e diga, Vc mora no coração de Deus que é o meu. ♥

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